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Tratamento de esgotos e lodos: a importância da vegetação para os wetlands construídos

Atualizado: 27 de fev. de 2020


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Os wetlands construídos, também conhecidos como sistemas alagados construídos (SAC) ou jardins filtrantes, são uma tecnologia para tratamento de águas, efluentes (esgotos) e lodos que se destaca das demais por utilizar a vegetação como um dos elementos do sistema. Apesar de ser o elemento mais notável não são as "plantas que tratam o esgoto", como costumeiramente se houve falar. Esta é uma das muitas distorções técnicas associadas aos wetlands construídos, justificada pelo desconhecimento dos seus mecanismos de funcionamento e, em especial, do papel da vegetação no processo de tratamento.


Afinal: qual é o papel da vegetação das plantas no tratamento de esgotos?


Assim como nos demais sistemas biológicos de tratamento de efluentes, nos sistemas wetlands construídos a microbiota que se desenvolve no leito do sistema, aderida ao meio suporte, é a principal responsável pela degradação/digestão da matéria orgânica presente no esgoto. Deste modo não são as plantas protagonistas no tratamento dos esgotos nos wetlands. Porém a dinâmica desta biomassa ativa presente no leito pode ser favorecida e otimizada de diversas formas. É exatamente neste ponto que atuam as plantas nos sistemas wetlands. Nestes reatores naturais, a zona de raiz contribui com a remoção de poluentes interagindo com o meio suporte, a água, os microrganismos e os contaminantes. A comunidade científica internacional vem elucidando em profundidade, ao longo das últimas décadas, os vários mecanismos e processos pelos quais os poluentes são removidos nos wetlands construídos. Cada grupo de poluentes (orgânicos, inorgânicos, patógenos) segue rotas específicas de degradação ou remoção. Em resumo, podemos dizer que nestes sistemas ocorrem processos físicos (filtração, sedimentação, volatilização), químicos (adsorção, oxidação, redução, precipitação, quelação) e biológicos (degradação e absorção pelos microrganismos, decaimento de patógenos, extração pelas plantas, entre outros). Estes processos ocorrem simultaneamente nos wetlands construídos, e é isso que confere tamanha robustez a estes sistemas.


As plantas são o elemento mais notável nos wetlands construídos e por isso estes sistemas se tornaram tão atraentes. Na literatura científica internacional há incontáveis pesquisas que mostram a importância da vegetação nos sistemas. Algumas das ações das plantas no sistema são:


  • Aumentam a área de filtragem

  • Aumentam a superfície de contato na subsuperfície

  • Estabilizam o meio suporte

  • Liberam oxigênio e elevam o potencial redox

  • Aumentam a diversidade, densidade e atividade biológica

  • Absorvem nutrientes e elementos-traço a certo limite

  • Liberam exsudatos radiculares importantes para as reações

  • Aumentam a condutividade hidráulica no meio suporte

  • Reduzem o processo de colmatação

  • Representam beleza estética e paisagística

  • Atraem biodiversidade criando um sistema ambientalmente rico


São diversas as espécies de plantas com potencial para emprego nos SAC. Uma das formas de se abordar esta questão é propondo duas divisões para a vegetação no sistema.


Na vertente paisagística, espécies ornamentais de diferentes folhagens, florações e alturas são escolhidas e organizadas compondo um projeto paisagístico. Podem ser empregadas plantas aquáticas, anfíbias ou terrestres, dependendo do tipo de wetland que se vai implantar, da disponibilidade da vegetação e do interesse do cliente.



Na vertente agroeconômica, se seleciona uma ou mais espécies de interesse comercial que podem trazer retorno econômico para o cliente, como espécies forrageiras para alimentação animal. De maneira geral, devem-se selecionar espécies que toleram condições de alagamento, que tenham sistema radicular bem desenvolvido, que apresentem manejo simples e que não sejam invasoras na região da implantação.



Podemos citar diversas espécies vegetais de interesse para aplicação nos wetlands construídos, especialmente num país como o Brasil, conhecido por sua biodiversidade. Há também espécies de culturas que podem trazer outros benefícios econômicos ao sistema, como citado anteriormente. Há uma lista extensa de plantas que ainda precisam ser investigadas e validadas. Dentre as mais amplamente empregadas estão a Typha latifolia (Taboa) e o Phragmites australis (fora do Brasil).


As características que tornam uma planta aquática, ou outra planta, ideal para os sistemas wetlands construídos são:


  • Ciclo de vida perene

  • Sistema radicular volumoso e extenso

  • Suportar ambiente contínua ou temporariamente alagado e eutrofizado

  • Apresentar elevada taxa de crescimento e propagação por rizomas

  • Facilidade de manejo/poda/colheita e controle de crescimento

  • Baixa susceptibilidade à incidência de pragas e doenças

  • Não devem ser espécies invasoras

  • Apresentar potencial estético ou de reuso de biomassa, por exemplo: alimentação animal (grãos, matéria verde e feno), produção de flores e fibras.





Os sistemas wetlands construídos podem contribuir fortemente para superação do atual cenário de crise hídrica no Brasil. Como é uma tecnologia com simplicidade construtiva e operacional e elevada eficiência se encaixa bem em várias situações brasileiras. Além disso, permite a produção de águas de reúso, composto orgânico e biomassa vegetal que podem ser comercializados gerando receita para o proprietário do sistema. Essa abordagem sobre a questão sanitária tem potencial de reverter a visão atual da sociedade sobre saneamento para uma visão em que os efluentes e resíduos transformam-se em matéria prima e recurso financeiro.

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